Relações precoces
A relação mãe-filho
Nos primeiros tempos de vida, o universo social da criança centra-se na figura da mãe, pelo que a relação que se estabelece entre ambos merece ser considerada de um modo particular. Durante séculos acreditou-se que os cuidados maternais eram tarefas cujo objectivo consistia simplesmente em providenciar o crescimento físico e a maturação fisiológica do bebé, de modo a poder ser, posteriormente treinado, ensinado, socializado, numa palavra, comportar-se como um adulto. A psicologia do desenvolvimento veio alterar substancialmente estas concepções. Piaget, Freud e Erikson, chamaram à atenção para uma nova infância, em que a criança, desde o momento do nascimento, inicia e prossegue uma caminhada nas vias intelectual, afectiva e social. Todos estes autores evidenciaram que o desenvolvimento é dinâmico e que envolve uma relação com outrem. Assim, a mãe surge necessariamente, como o primeiro agente através do qual a criança interage com o meio. Deste modo, teremos de conceber que a relação com a mãe implica necessidades que se juntam às necessidades meramente fisiológicas (como sustentam, aliás, as concepções mecanicistas) e que, a não serem satisfeitas, comprometerão o desenvolvimento harmonioso da personalidade individual. Muitos psicólogos se têm dedicado ao estudo da privação do afecto materno, concluindo que apesar de bem cuidadas em termos de alimentação e higiene as crianças, privadas do afecto materno, apresentavam perturbações emotivas e atraso no desenvolvimento. As observações recentes de Bowlby concluem que, quando afastadas da família por períodos superiores a três meses, as crianças vêm a sofrer de perturbações que vão desde o desespero, à irritação e cólera, até à apatia e indiferença. Este psiquiatra ilustre considerou que o vínculo afectivo (attachement) que se estabelece entre o filho e a mãe, não é apenas uma resposta natural à mãe, que lhe satisfaz as necessidades mais elementares, é antes uma necessidade de cariz emocional cuja satisfação reside em experiências gratificantes como: estar ao colo, ser embalado, ser abraçado e beijado, receber afagos, festas e carícias. Harlow corroborou, realizando estudos etológicos, as conclusões de Bowlby. É sobejamente conhecida a experiência que realizou com macacos bebés. Como sabemos os macacos preferiam as mães felpudas. A princípio Harlow pensou que estas mães substitutas satisfaziam as necessidades emocionais dos bebés. Porém, apesar de parecerem saudáveis e normais, estes macaquinhos não se tornaram adolescentes nem adultos, com padrões de comportamento semelhantes aos dos outros macacos. Harlow verificou o seguinte: apresentavam comportamentos compulsivos, movendo-se em círculos ou baloiçando o corpo para a frente e para trás; não revelavam qualquer interesse por outros macacos ou pessoas; eram sexualmente desajustados, não se relacionando normalmente com macacos do sexo oposto; quando foram mães, alguma s macacas mostravam-se incapazes de cuidar dos filhos e rejeitavam-nos agressivamente. Para além dos laços afectivos com alguém, o bebé precisa de viver num meio social estimulante onde possa interagir com os outros e aprender a comportar-se em sociedade. A relação com a mãe é, também nesse campo, um motor para o desenvolvimento de capacidades essenciais para o sucesso social, como autoconfiança, iniciativa, independência e responsabilidade. O sorriso selectivo do bebé é um sinal distintivo da sociabilidade do bebé, um modo de interagir com o adulto. Mas esta relação sócio-emocional é recíproca. Também o adulto experimenta sensações agradáveis quando cria, protege, cuida. Mais do que um dever, estas tarefas podem ser uma fonte de prazer e de satisfação. Por fim poderíamos dizer que esta relação se inicia mesmo antes do nascimento, com o desejo da maternidade e todas as implicações que a decisão de ter um filho acarreta, criando as condições favoráveis à entrada do filho no mundo. Em função do que foi dito, quando se fala da relação mãe-filho, tem de entender-se como uma relação entre a criança e um adulto significativo, aquele que lhe proporciona as experiências precoces mais estimulantes e positivas, que com ele passa mais tempo e lhe dispensa maior atenção e afecto.
Professora Manuela Arriaga
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